BIOGRAFIA DE BERTOLT BRECHT
Bertolt Brecht (1898-1956) é um dos autores alemães mais importantes do século XX, especialmente nas suas facetas de dramaturgo, filófoso e poeta. De formação socialista, Brecht dava grande importância à dimensão pedagógica das suas obras de teatro: contrário à passividade do espectador, sua intenção era formar e estimular o pensamento crítico do público. Para isso, servia-se de efeitos de distanciamento, como máscaras, entreatos musicais ou painéis nos quais se comentava a ação.
Brecht expôs em escritos de caráter teórico e encenações modelares essa nova forma de entender o teatro. O reconhecimento de sua genialidade chegou muito depressa: em 1922, foi concedido ao jovem Brecht o prêmio Kleist por Tambores da Noite. Brecht consolidou-se como escritor independente logo após os musicais Ópera dos Três Vinténs (1928) – que bem mais tarde inspiraria a Ópera do Malandro, do brasileiro Chico Buarque de Holanda – e Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny (1930), escritos em colaboração com o compositor Kurt Weil. A crítica social contida nessas e em todas as suas obras causam até hoje o fascínio das platéias que são provocadas por um teatro que estumula a reflexão crítica sobre o papel do home na sociedade contemporânea.
A ascensão ao poder dos nazistas marcou o início de uma longa odisséia para Brecht, que, no final, o conduziu à Califórnia, onde permaneceu até o final da guerra e onde escreveu muitas das suas famosas obras teatrais: Galileu Galilei (1938), que aborda a responsabilidade da ciência; a peça antibelicista Mãe Coragem (1939) e A alma boa de Setsuan (1941). Após o regresso à Alemanha Oriental, fundou o Berliner Ensemble, onde se encenava principalmente suas obras.
O teatro de Brecht é determinante para a história do teatro e da arte-educação brasileiros. O método dialético proposto por Brecht tem forte influência nos experimentos pedagógicos com teatro nas escolas públicas, além de contribuir para definição do traçado estético-ideológico do teatro no Brasil, especialmente a partir da década de 60. Esta papel se estende ao processo de formação de grupos históricos como o Oficina, o Opinião e o Teatro de Arena, além do teatro universitário, exercendo, até hoje, funções de relevância tanto na formação de atores quando na condução das encenações contemporâneas.
Na Bahia, o teatro de Brecht foi referência para o teatro estudantil e para as companhias teatrais fundadoras do Teatro Vila Velha, Escola de Teatro e grande parte do teatro de forte ação social nos palcos convencionais, nas ruas, bairros e espaços alternativos.
(Por Luiz Marfuz)
DAS OBRAS TODAS
Tradução de Geir Campos
Das obras todas, as que mais me agradam
São as usadas;
Vasos de cobre com mossas e de bordas achatadas,
Facas e garfos com os cabos de pau
Gastos por muitas mãos - essas, as formas
Que me parecem mais nobres. Como as calçadas ao redor das velhas casas,
Por muitos pés pisadas e polidas,
E entre as quais nascem tufos de capim
- São obras muito felizes.
Postas em uso por muitos,
E quase sempre alteradas, aprimoram suas formas e passam a ser gostosas,
De tantas vezes provadas,
Até mesmo uns pedaços de esculturas
De mãos quebradas me agradam: eles também
Tiveram vida, para mim - ao cair, foram empurrados
E atropelados, conquanto não chegassem a estar alto demais.
Também me dão a impressão de grandes projetos
Deixados por terminar: suas belas proporções
Já se vislumbram, só pedindo ainda
A nossa compreensão. Ao mesmo tempo
Já serviram e assim foram vencidas. Tudo isso
Me faz feliz.
In: WILLET, John. O teatro de Brecht: visto de oito aspectos. Rio de Janeiro: Zahar, 1967, p.202-203